Capítulo 24 Análise inferencial
24.1 Raciocínio inferencial
24.1.1 O que é análise inferencial?
Na análise inferencial são utilizados dados da(s) amostra(s) para fazer uma inferência válida (isto é, estimativa) sobre os parâmetros populacionais desconhecidos.109
No paradigma de Jerzy Neyman e Egon Pearson, um teste de hipótese científica envolve a tomada de decisão sobre hipóteses nulas (\(H_{0}\)) e alternativa (\(H_{1}\)) concorrentes e mutuamente exclusivas.243
24.1.2 Quais são os tipos de raciocínio inferencial?
Inferência dedutiva: Uma dada hipótese inicial é utilizada para prever o que seria observado caso tal hipótese fosse verdadeira.244
Inferência indutiva: Com base nos dados observados, avalia-se qual hipótese é mais defensável (isto é, mais provável).244
24.2 Hipóteses científicas
24.2.1 O que é hipótese científica?
Hipótese científica é uma ideia que pode ser testada.243
Definir claramente os problemas e os objetivos da pesquisa são o ponto de partida de todos os estudos científicos.133
24.2.2 Quais são as fontes de ideias para gerar hipóteses científicas?
Revisão das práticas atuais.246
Desafio a ideias aceitas.246
Conflito entre ideias divergentes.246
Variações regionais, temporais e populacionais.246
Experiências dos próprios pesquisadores.246
Imaginação sem fronteiras ou limites convencionais.246
24.3 Hipóteses estatísticas
24.3.1 O que é hipótese nula?
- A hipótese nula (\(H_{0}\)) é uma expressão que representa o estado atual do conhecimento (status quo), em geral a não existência de um determinado efeito.217
24.3.2 O que é hipótese alternativa?
- A hipótese alternativa (\(H_{1}\)) é uma expressão que contém as situações que serão testadas, de modo que um resultado positivo indique alguma ação a ser conduzida.217
24.3.3 Qual hipótese está sendo testada?
A hipótese nula (\(H_{0}\)) é a hipótese sob teste em análises inferenciais.110
Pode-se concluir sobre rejeitar ou não rejeitar a hipótese nula (\(H_{0}\)).110
Não se conclui sobre a hipótese alternativa (\(H_{1}\)).217
Para testar a hipótese nula, deve-se selecionar o nível de significância crítica (P-valor de corte); a probabilidade de rejeitarmos uma hipótese nula verdadeira (\(\alpha\)); e a probabilidade de não rejeitarmos uma hipótese nula falsa (\(\beta\)).243
24.4 Testes de hipóteses
24.4.1 Quais são os tipos de teste de hipóteses?
Teste (clássico) de significância da hipótese nula.247
Teste de mínimos efeitos.247
Teste de equivalência.247
Teste de inferioridade.247
Teste de não-inferioridade.REF?
Teste de superioridade.REF?
24.4.5 O que são testes unicaudais e bicaudais?
- .REF?

Figura 24.1: Representação gráfica de um teste de hipótese unicaudal à direita, aplicado quando se busca evidência de efeitos positivos (valores significativamente maiores que o esperado sob \(H_0\)).

Figura 24.2: Representação gráfica de um teste de hipótese unicaudal à esquerda, aplicado quando se busca evidência de efeitos negativos (valores significativamente menores que o esperado sob \(H_0\)).

Figura 24.3: Representação gráfica de um teste de hipótese bicaudal, aplicado quando se busca evidência de efeitos positivos ou negativos (valores significativamente diferentes do esperado sob \(H_0\)).
24.5 Inferência visual
24.5.1 O que é inferência visual?
Inferência visual consiste na interpretação de dados apresentados em gráficos.249
Para inferência visual, recomenda-se a apresentação dos dados em gráficos com estimativas de tendência central e seu intervalo (preferencialmete intervalo de confiança no nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido).249
24.5.2 Por que usar intervalos de confiança para inferência visual?
Intervalos de confiança fornecem estimativas pontuais e intervalares na mesma unidade de medida da variável.249
Existe uma relação entre o intervalo de confiança e o valor de P obtido pelo teste de significância de hipótese nula, em que ambos consideram o mesmo nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido.249
24.5.3 Como interpretar intervalos de confiança em uma figura?
Identifique o que as tendências centrais e as barras de erro representam. Qual é a variável dependente? É expressa em unidades originais ou é padronizada ? A figura mostra intervalos de confiança, erro-padrão ou desvio-padrão? Qual é o desenho experimental?249
Faça uma interpretação substantiva dos valores de tendência central e dos intervalos de confiança.249
O intervalo de confiança é uma faixa de valores plausíveis para a tendência central. Valores fora do intervalo são relativamente implausíveis, no nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido.249
Qualquer valor fora do intervalo de confiança, quando considerado como hipótese nula (\(H_{0}\)), equivale a \(P < \alpha\) pré-estabelecido (bicaudal).249
Qualquer valor dentro do intervalo, quando considerado como hipótese nula (\(H_{0}\)), equivale a \(P > \alpha\) pré-estabelecido (bicaudal).249
24.6 Interpretação de análise inferencial
24.6.1 Como interpretar uma análise inferencial?
Testes de hipótese nula (\(H_{0}\)) vs. alternativa (\(H_{1}\)) a partir de um nível de significância (\(\alpha\)) pré-especificado.250
P-valor como evidência estatística sobre (\(H_{0}\)).250
Estimação de intervalos de confiança de um nível de significância (\(\alpha\)) pré-especificado bicaudal (\(IC_{1-\alpha/2}\)) ou unicaudal (\(IC_{1-\alpha}\)).250
Análise Bayesiana.250
24.6.2 O que são resultados ‘positivos’ e ‘negativos’ ou inconclusivos em teste de hipótese?
Resultados ‘positivos’ compreendem um P-valor dentro da zona crítica estatisticamente significativa (ex.: \(P<0,05\) ou outro ponto de corte) e sugerem que os autores rejeitem a hipótese nula \(H_{0}\), confirmando assim sua hipótese científica.251
Resultados ‘negativos’ ou inconclusivos compreendem um P-valor fora da zona crítica estatisticamente significativa (ex.: \(P \geq 0,05\) ou outro ponto de corte) e sugerem que os autores não rejeitem a hipótese nula \(H_{0}\) porque o efeito observado é nulo (logo, negativo), ou porque o estudo não possui poder suficiente para detectá-lo, não permitindo portanto afirmar a hipótese científica (logo, inconclusivo).251
24.6.3 Qual a importância de resultados ‘negativos’?
Conhecer resultados negativos contribui com uma visão mais ampla do campo de estudo junto aos resultados positivos.252
Resultados negativos permitem um melhor planejamento das pesquisas futuras e pode aumentar suas chances de sucesso.252
24.6.4 Resultados inconclusivos: Ausência de evidência ou evidência de ausência?
Em estudos (geralmente com amostras grandes), resultados estatisticamente significativos (com P-valores menores do limiar pré-estabelecido, \(P<\alpha\)) podem não ser clinicamente relevantes.253
Em estudos (geralmente com amostras pequenas), resultados estatisticamente não significativos (com P-valores iguais ou maiores do limiar pré-estabelecido, \(P \geq \alpha\)) não devem ser interpretados como evidência de inexistência do efeito.253
Geralmente é razoável aceitar uma nova conclusão apenas quando há dados a seu favor (‘resultados positivos’). Também é razoável questionar se apenas a ausência de dados a seu favor (‘resultados negativos’) justifica suficientemente a rejeição de tal conclusão.253
24.7 Erros de inferência
24.7.1 O que são erros de inferência estatística?
- Um erro de inferência é a tomada de decisão incorreta, seja a favor ou contra a hipótese nula \(H_{0}\).243
24.7.2 O que são erros Tipo I e Tipo II?
Erro Tipo I significa a rejeição de uma hipótese nula (\(H_{0}\)) quando esta é verdadeira.243
Erro Tipo II significa a não rejeição de uma hipótese nula (\(H_{0}\)) quando esta é falsa.243
Hipótese nula \(H_{0}\) é falsa | Hipótese nula \(H_{0}\) é verdadeira | |
---|---|---|
Hipótese nula \(H_{0}\) foi rejeitada | Decisão correta | Decisão incorreta (erro tipo I) |
Hipótese nula \(H_{0}\) não foi rejeitada | Decisão incorreta (erro tipo II) | Decisão correta |

Figura 24.4: Representação gráfica dos erros tipo I e tipo II em um teste de hipótese (bicaudal).

Figura 24.5: Erro tipo I: Distribuição dos p-valores em 100 testes de hipótese de amostras aleatórias de tamanho 30. A linha vermelha pontilhada indica o nível de significância estatística de 0,05.

Figura 24.6: Erro tipo II: Distribuição dos p-valores em 100 testes de hipótese de amostras aleatórias de tamanho 10. A linha vermelha pontilhada indica o nível de significância estatística de 0,05.
24.7.3 O que são erros Tipo S e Tipo M?
- Erro Tipo S (do inglês sign) significa a identificação errônea da direção - positiva ou negativa - do efeito observado.254,255
Sinal positivo | Sinal negativo | |
---|---|---|
Sinal positivo | Decisão correta | Decisão incorreta (erro tipo S) |
Sinal negativo | Decisão incorreta (erro tipo S) | Decisão correta |

Figura 24.7: Representação gráfica do erro tipo S (sinal) em um teste de hipótese (bicaudal).
- Erro Tipo M (do inglês magnitude) significa a identificação errônea - em geral, exagerada - da magnitude do efeito observado.254,255
Magnitude alta | Magnitude baixa | |
---|---|---|
Magnitude alta | Decisão correta | Decisão incorreta (erro tipo M) |
Magnitude baixa | Decisão incorreta (erro tipo M) | Decisão correta |

Figura 24.8: Representação gráfica do erro tipo M (magnitude) em um teste de hipótese (bicaudal).
Ferreira, Arthur de Sá. Ciência com R: Perguntas e respostas para pesquisadores e analistas de dados. Rio de Janeiro: 1a edição,