Capítulo 21 Distribuições e parâmetros
21.1 Distribuições de probabilidade
21.1.1 O que são distribuições de probabilidade?
- Uma distribuição de probabilidade é uma função que descreve os valores possíveis ou o intervalo de valores de uma variável (eixo horizontal) e a frequência com que cada valor é observado (eixo vertical).109
21.1.2 Como representar distribuições de probabilidade?
Tabelas de frequência, polígonos de frequência, gráficos de barras, histogramas e boxplots são formas de representar distribuições de probabilidade.209
Tabelas de frequência mostram as categorias de medição e o número de observações em cada uma. É necessário conhecer o intervalo de valores (mínimo e máximo), que é dividido em intervalos arbitrários chamados “intervalos de classe”.209
Se houver muitos intervalos, não haverá redução significativa na quantidade de dados, e pequenas variações serão perceptíveis. Se houver poucos intervalos, a forma da distribuição não poderá ser adequadamente determinada.209
A quantidade de intervalos pode ser determinada pelo método de Sturges, que é dado pela fórmula \(k = 1 + 3.322 \times \log_{10}(n)\), onde \(k\) é o número de intervalos e \(n\) é o número de observações.210
A quantidade de intervalos pode ser determinada pelo método de Scott, que é dado pela fórmula \(h = 3.5 \times \text{sd}(x) \times n^{-1/3}\), onde \(h\) é a largura do intervalo, \(\text{sd}(x)\) é o desvio padrão e \(n\) é o número de observações.211
A quantidade de intervalos pode ser determinada pelo método de Freedman-Diaconis, que é dado pela fórmula \(h = 2 \times \text{IQR}(x) \times n^{-1/3}\), onde \(h\) é a largura do intervalo, \(\text{IQR}(x)\) é o intervalo interquartil e \(n\) é o número de observações.212
A largura das classes pode ser determinada dividindo o intervalo total de observações pelo número de classes. Recomenda-se larguras iguais, mas larguras desiguais podem ser usadas quando existirem grandes lacunas nos dados ou em contextos específicos. Os intervalos devem ser mutuamente exclusivos e não sobrepostos, evitando intervalos abertos (ex.: <5, >10).209
Polígonos de frequência são gráficos de linhas que conectam os pontos médios de cada barra do histograma. Eles são úteis para comparar duas ou mais distribuições de frequência.209
Gráficos de barra verticais ou horizontais representam a distribuição de frequências de uma variável categórica. A altura de cada barra é proporcional à frequência da classe. A largura da barra é igual à largura da classe. A área de cada barra é proporcional à frequência da classe. A área total do gráfico de barras é igual ao número total de observações.209
Histogramas representam a distribuição de frequências de uma variável contínua. A altura de cada barra é proporcional à frequência da classe. A largura da barra é igual à largura da classe. A área de cada barra é proporcional à frequência da classe. A área total do histograma é igual ao número total de observações.209
Boxplots representam a distribuição de frequências de uma variável contínua. A linha central divide os dados em duas partes iguais (mediana ou Q2). A caixa inferior representa o primeiro quartil (Q1) e a caixa superior representa o terceiro quartil (Q3). A linha inferior é o mínimo e a linha superior é o máximo. Os valores atípicos são representados por pontos individuais.209
O pacote grDevices207 fornece a função nclass para determinar a quantidade de classes de um histograma com os métodos de Sturge210, Scott211 ou Freedman-Diaconis212.
O pacote ggplot2181 fornece a função geom_freqpoly para criar histogramas.
21.1.3 Quais características definem uma distribuição?
- Uma distribuição pode ser definida por modelos matemáticos e caracterizada por parâmetros de tendência central, dispersão, simetria e curtose.
21.1.4 Quais são as distribuições mais comuns?
Distribuções discretas:
Bernoulli: resultado de um único teste com dois possíveis desfechos (sucesso ou fracasso).REF?
Binomial: número de sucessos em k tentativas.REF?
Geométrica: número de testes até o 1o sucesso.REF?
Binomial negativa: número de testes até o k-ésimo sucesso.REF?
Hipergeométrica: número de indivíduos na amostra tomados sem reposição.REF?
Poisson: número de eventos em um intervalo de tempo fixo.REF?
Uniforme: resultados (finitos) que são igualmente prováveis.REF?
Multinomial: resultados de múltiplos testes com mais de dois possíveis desfechos.REF?

Figura 21.1: Distribuições discretas e suas funções de probabilidade.
Distribuições contínuas:

Figura 21.2: Distribuições contínuas básicas e suas funções de densidade.

Figura 21.3: Distribuições contínuas aproximadas e suas funções de densidade.

Figura 21.4: Distribuições contínuas aproximadas e suas funções de densidade.

Figura 21.5: Distribuições contínuas para inferência e suas funções de densidade.

Figura 21.6: Distribuições contínuas para dados específicos e suas funções de densidade.

Figura 21.7: Distribuições contínuas para probabilidades e proporções e suas funções de densidade.

Figura 21.8: Distribuições contínuas com caudas pesadas e suas funções de densidade.
21.1.5 Quais são as funções de uma distribuição?
Função de massa de probabilidade (probability mass function, pmf).REF?
Função de distribuição cumulativa (cumulative distribution function, cdf).REF?
Função quantílicas (quantile function, qf).REF?
Função geradora de números aleatórios (random function, rf).REF?
O pacote stats142 fornece funções de distribuição de probabilidade (p), funções de densidade (d), funções quantílicas (q) e funções geradores de números aleatórios (r) para as distribuições normal, Student t, binomial, qui-quadrado, uniforme, dentre outras.
O pacote ggdist213 fornece a função geom_slabinterval para criar gráficos de distribuição de probabilidade (p) e funções de densidade (d) as distribuições.
O pacote ggfortify214 fornece a função ggdistribution para criar gráficos de distribuição de probabilidade (p), funções de densidade (d), funções quantílicas (q) e funções geradores de números aleatórios (r) para as distribuições.
21.1.6 O que é a distribuição normal?
A distribuição normal (ou gaussiana) é uma distribuição com desvios simétricos positivos e negativos em torno de um valor central.110
Em uma distribuição normal, o intervalo de 1 desvio-padrão (±1DP) inclui cerca de 68% dos dados; de 2 desvios-padrão (±2DP) cerca de 95% dos dados; e no intervalo de 3 desvios-padrão (±3DP) cerca de 99% dos dados.110

Figura 21.9: Distribuições e funções de probabilidade.
21.2 Parâmetros
21.2.1 O que são parâmetros?
Parâmetros são informações que definem um modelo teórico, como propriedades de uma coleção de indivíduos.108
Parâmetros definem características de uma população inteira, tipicamente não observados por ser inviável ter acesso a todos os indivíduos que constituem tal população.109
21.2.2 O que é uma análise paramétrica?
Testes paramétricos possuem suposições sobre as características e/ou parâmetros da distribuição dos dados na população.109
Testes paramétricos assumem que: a variável é quantitativa numérica (contínua); os dados foram amostrados de uma população com distribuição normal; a variância da(S) amostra(s) é igual à da população; as amostras foram selecionadas de modo aleatório na população; os valores de cada amostra são independentes entre si.109,110
Testes paramétricos são baseados na suposição de que os dados amostrais provêm de uma população com parâmetros fixos determinando sua distribuição de probabilidade.8
21.2.3 O que é uma análise não paramétrica?
Testes não-paramétricos fazem poucas suposições, ou menos rigorosas, sobre as características e/ou parâmetros da distribuição dos dados na população.109,110
Testes não-paramétricos são úteis quando as suposições de normalidade não podem ser sustentadas.110
21.2.4 Devemos testar as suposições de normalidade?
- Testes preliminares de normalidade não são necessários para a maioria dos testes paramétricos de comparação, pois eles são robustos contra desvios moderados da normalidade. Normalidade da distribuição deve ser estabelecida para a população.215
21.2.5 Por que as análises paramétricas são preferidas?
Em geral, testes paramétricos são mais robustos (isto é, possuem menores erros tipo I e II) que seus testes não-paramétricos correspondentes.109,197,216
Testes não-paramétricos apresentam menor poder estatístico (maior erro tipo II) comparados aos testes paramétricos correspondentes.110
21.3 Tendência central
21.3.1 Que parâmetros de tendência central podem ser estimados?
Média aritmética, ponderada, geométrica ou harmônica.110,217,220
A posição relativa das medidas de tendência central (média, mediana e moda) depende da forma da distribuição.221
Em uma distribuição normal, as três medidas são idênticas.221
A média é sempre puxada para os valores extremos, por isso é deslocada para a cauda em distribuições assimétricas.221
A mediana fica entre a média e a moda em distribuições assimétricas.221
A moda é o valor mais frequente e, portanto, se localiza no pico da distribuição assimétrica.221
Uma distribuição pode uma moda (unimodal), duas modas (bimodal) ou três ou mais modas (multimodal), indicando a presença de mais de um valor com alta frequência.221

Figura 21.11: Distribuições unimodal, bimodal e multimodal.

Figura 21.12: Parâmetros de tendência central em distribuições assimétricas e normais.
21.3.2 Como escolher o parâmetro de tendência central?
A mediana é preferida à média quando existem poucos valores extremos na distribuição, alguns valores são indeterminados, ou há uma distribuição aberta, ou os dados são medidos em uma escala ordinal.221
A moda é preferida quando os dados são medidos em uma escala nominal.221
A média geométrica é preferida quando os dados são medidos em uma escala logarítmica.221
21.4 Dispersão
21.4.1 Que parâmetros de dispersão podem ser estimados?
Desvio-padrão: Informam sobre a dispersão da população e são, portanto, úteis como preditores da variação em novas amostras.204,218,222
Erro-padrão: Refletem a incerteza na média e sua dependência do tamanho da amostra.204,218
Intervalo de confiança: Captura a média populacional correspondente ao nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido.110,203,204,217

Figura 21.13: Parâmetros de dispersão em distribuições normais.
O pacote stats142 fornece a função confint para calcular o intervalo de confiança em um nível de significância \(\alpha\).
21.4.2 Como escolher o parâmetro de dispersão?
Desvio-padrão é apropriado quando a média é utilizada como parâmetro de tendência central em distribuições simétricas.222
Amplitue ou intervalo interquartil são apropriadas para variáveis ordinais ou distribuições assimétricas.222
21.4.3 O que é a correção de Bessel para variância?
Correção de Bessel é um ajuste feito no denominador da fórmula de variância da amostra — ou seja, o número de graus de liberdade — para evitar que a variância amostral seja menor do que a variância populacional.223
A correção de Bessel é feita subtraindo-se 1 do número de observações da amostra, ou seja, \(n - 1\).223
21.4.4 Por que a correção de Bessel para variância é importante?
A correção de Bessel é importante porque a variância amostral tende a ser menor do que a variância populacional, especialmente em amostras pequenas.223
A correção de Bessel ajuda a garantir que a variância amostral seja uma estimativa mais precisa da variância populacional, o que é fundamental para a validade dos testes estatísticos e das inferências feitas a partir da amostra.223
21.5 Proporção
21.5.1 Que parâmetros de proporção podem ser estimados?
Quantil: é o ponto de corte que define a divisão da amostra em grupos de tamanhos iguais. Portanto, não se referem aos grupos em si, mas aos valores que os dividem:219
Tercil: 2 valores que dividem a amostra em 3 grupos de tamanhos iguais.219
Quartil: 3 valores que dividem a amostra em 4 grupos de tamanhos iguais.219
Quintil: 4 valores que dividem a amostra em 5 grupos de tamanhos iguais.219
Decil: 9 valores que dividem a amostra em 10 grupos de tamanhos iguais.219
21.7 Extremos
21.8 Robustez em medidas de localização
21.8.1 O que é ponto de quebra (breakdown value)?
- É a menor proporção de contaminação que pode levar o estimador a resultados arbitrariamente errados; quanto maior, mais robusto.225
21.8.2 Por que a média não é robusta?
- Porque tem ponto de quebra \(~0%\) e função influência não limitada; um único outlier pode distorcer a média arbitrariamente.225
21.8.3 Qual a alternativa robusta para localização?
- Mediana, com \(~50%\) de ponto de quebra e função influência limitada.225
21.8.4 Como estimar escala de forma robusta?
- Median Absolute Deviation (MAD), equação (??), com correção 1,483 para normalidade, com \(~50%\) de ponto de quebra..225
- Primeiro quartil das diferenças pareadas (\(Qn\)), equação (21.2), com \(~50%\) de ponto de quebra.225
- O intervalo interquartil (\(IQR\)), equação @ref(eq;iqr) é robusto, com ponto de quebra \(~25%\), sendo simples de interpretar e útil em boxplots.225
21.9 Parâmetros robustos
21.9.1 O que são parâmetros robustos?
- Parâmetros robustos são medidas de posição e dispersão que permanecem estáveis mesmo na presença de valores discrepantes.226
21.9.2 Que parâmetros robustos podem ser estimados?
Mediana em vez da média aritmética, pois é menos sensível a valores extremos.226
MAD (Median Absolute Deviation) em vez do desvio padrão, que pode ser escalonado por 1.483 para comparabilidade.226
Qn e Sn como estimadores alternativos de dispersão robusta.226
Média e variância Winsorizadas como opções intermediárias, reduzindo a influência dos outliers.226
21.9.3 Por que utilizar parâmetros robustos?
Eles garantem maior confiabilidade quando os dados não seguem a normalidade ou apresentam contaminação por outliers.226
Permitem análises mais estáveis em estudos exploratórios, evitando decisões equivocadas sobre variabilidade ou tendência central.226
Ferreira, Arthur de Sá. Ciência com R: Perguntas e respostas para pesquisadores e analistas de dados. Rio de Janeiro: 1a edição,