Capítulo 20 Análise descritiva
20.1 Análise descritiva
20.1.1 O que é análise descritiva?
- Análise descritiva é usada para compreendermos algum aspecto de um conjunto de dados, respondendo a perguntas do tipo “quando?”, “onde?”, “quem?”, “o quê?”, “como?” e “e daí?”.109,183
20.1.2 Como apresentar os resultados descritivos?
Variáveis categóricas: Reporte valores de frequência absoluta e relativa (n, percentual).184
Organização das tabelas: as variáveis são exibidas em linhas e os grupos são exibidos em colunas.184
Calcule percentagens para as colunas (isto é, entre grupos) e não entre linhas.184
Em caso de dados perdidos, não inclua uma linha com total de dados perdidos, pois distorce as proporções entre colunas e as análises de tabela de contingência. Indique no texto ou em uma coluna separada o total de dados perdidos por variável.184
20.2 Apresentação de resultados numéricos
20.2.1 O que são casas decimais?
- O número de casas decimais refere-se à quantidade de dígitos que aparecem após a vírgula decimal.185,186
20.2.2 O que são dígitos significativos?
O termo “dígitos significativos” é preferido a “algarismos significativos” ou “dígitos efetivos” e não se relaciona com significância estatística.185,186
O número de dígitos significativos é a soma total de dígitos, desconsiderando a vírgula decimal e os zeros à esquerda; os zeros à direita são considerados informativos, salvo exceções.185,186
20.2.3 Como arredondar dados numéricos?
Apresentar dados com quantidade excessiva de casas decimais pode dificultar a interpretação e induzir erroneamente uma precisão espúria.185,186
A precisão é determinada pelo grau de arredondamento aplicado, medido em casas decimais ou dígitos significativos.185,186
Valor | Casas Decimais | Dígitos Significativos |
---|---|---|
0,00789 | 5 | 0 |
0,0456 | 4 | 0 |
45,6 | 1 | 2 |
123,456 | 3 | 3 |
7890,0000 | 4 | 4 |
- O arredondamento também introduz erros, uma vez que aumenta a imprecisão (isto é, incerteza) em torno do valor original.185,186
Valor | Casas Decimais | Dígitos Significativos | 2 Casas decimais [Margem de erro] | 1 Casa decimal [Margem de erro] | Sem casa decimal [Margem de erro] |
---|---|---|---|---|---|
0,00789 | 5 | 0 | 0,01 [0,005, 0,015] | 0,0 [-0,05, 0,05] | 0 [-0,5, 0,5] |
0,0456 | 4 | 0 | 0,05 [0,045, 0,055] | 0,0 [-0,05, 0,05] | 0 [-0,5, 0,5] |
45,6 | 1 | 2 | 45,60 [45,595, 45,605] | 45,6 [45,55, 45,65] | 46 [45,5, 46,5] |
123,456 | 3 | 3 | 123,46 [123,455, 123,465] | 123,5 [123,45, 123,55] | 123 [122,5, 123,5] |
7890,0000 | 4 | 4 | 7890,00 [7889,995, 7890,005] | 7890,0 [7889,95, 7890,05] | 7890 [7889,5, 7890,5] |
A regra geral é utilizar 2 ou 3 dígitos significativos para tamanhos de efeito e 1 ou 2 dígitos significativos para medidas de variabilidade.186
Regra dos 3 dígitos significativos para proporção de risco: em média, o erro de arredondamento é menor que os 0,5% exigidos, de modo que três dígitos significativos são mais precisos do que o necessário.185
Regra dos 4 dígitos significativos para proporção de risco: divida a proporção de risco por quatro e arredonde para dois dígitos significativos e, em seguida, relate a proporção para esse número de casas decimais.185
20.3 Tabelas
20.3.1 Por que usar tabelas?
- Tabelas complementam o texto (e vice-versa), e podem apresentar os dados de modo mais acessível e informativo.187
20.3.2 Que informações incluir nas tabelas?
- Título ou legenda, uma síntese descritiva (geralmente por meio de parâmetros descritivos), intervalos de confiança e/ou P-valores conforme necessário para adequada interpretação.187,188
20.3.3 Quais são os tipos de tabelas?
Tabela de frequência: apresenta a quantidade de ocorrências (frequência absoluta e relativa) de cada categoria de uma variável; usada com variáveis qualitativas ou quantitativas discretas.REF?
Tabela de frequência agrupada: organiza dados contínuos em intervalos de classe (ex: faixas etárias) e mostra as frequências correspondentes.REF?
Tabela de contingência (ou tabela cruzada): cruza duas variáveis categóricas, permitindo observar possíveis associações entre elas.REF?
Tabela de medidas descritivas: resume variáveis quantitativas com estatísticas como média, mediana, desvio-padrão, mínimo, máximo e quartis.REF?
Tabela de comparação entre grupos: apresenta médias, desvios-padrão e ocasionalmente resultados de testes de inferência estatística para comparar dois ou mais grupos.REF?
Tabela de resultados de testes estatísticos: exibe valores de estatísticas de teste , P valores e intervalos de confiança; usada para mostrar inferências.REF?
Tabela de regressão (ou de modelos estatísticos): mostra os coeficientes de regressão, erros padrão, intervalos de confiança e P valores para cada variável de um modelo.REF?
Tabela de séries temporais ou longitudinais: organiza dados medidos em diferentes momentos no tempo, permitindo visualizar tendências ou variações longitudinais.REF?
O pacote flextable189 fornece as funções flextable, as_flextable e save_as_docx para criar e salvar tabelas formatadas em DOCX.
O pacote rempsyc190 fornece a função nice_table para criar tabelas formatadas.
O pacote gtsummary192 fornece a função tbl_summary para construção da ‘Tabela 1’ com dados descritivos.
20.3.4 Quais são os erros mais comuns de preenchimento de tabelas?
Erros tipográficos.193
Ausência de rótulos ou unidades nas variáveis.193
Relatar estatísticas incorretamente, tais como rotular variáveis contínuas como porcentagens.193
Estatísticas descritivas de tendência central (ex.: médias) relatadas sem a estatística de dispersão correspondente (ex.: desvio-padrão).193
Desvio-padrão nulo (\(\sigma=0\)).193
Valores porcentuais que não correspondem ao numerador dividido pelo denominador.193
20.4 Tabela 1
20.4.1 O que é a ‘Tabela 1’?
- A ‘Tabela 1’ descreve as características demográficas, sociais e clínicas da amostra, completa ou agrupada por algum fator, geralmente por meio de parâmetros de tendência central e dispersão.194,195
20.4.2 Qual a utilidade da ‘Tabela 1’?
Descrever (conhecer) as características da amostra e dos grupos sendo comparados, quando aplicável.195
Verificar aderência ao protocolo do estudo, incluindo critérios de inclusão/exclusão, tamanho da amostra e perdas amostrais.195
Permitir a replicação do estudo.195
Meta-analisar os dados junto a estudos similares.195
Avaliar a generalização (validade externa) das conclusões do estudo.195
20.4.3 O que é a falácia da ‘Tabela 1’?
- Falácia da Tabela 1 ocorre pela interpretação errônea dos P-valores na comparação entre grupos, na linha de base, de um ensaio clínico aleatorizado.196
20.4.4 Como construir a ‘Tabela 1’?
- A Tabela 1 geralmente é utilizada para descrever as características da amostra estudada, possibilitando a análise de ameaças à validade interna e/ou externa ao estudo.197,198
O pacote gtsummary192 fornece a função tbl_summary para construção da ‘Tabela 1’ com dados descritivos.
20.5 Tabela 2
20.5.1 Qual a utilidade da ‘Tabela 2’?
- A Tabela 2 mostra associações ajustadas multivariadas com o resultado para variáveis resumidas na Tabela 1.194
20.5.2 O que é a falácia da ‘Tabela 2’?
A Tabela 2 pode induzir ao erro de interpretação pelas estimativas de efeitos para covariáveis do modelo também serem utilizados para controlar a confusão da exposição.194,199
Ao apresentar estimativas de efeito ajustadas para covariáveis juntamente com a estimativa de efeito ajustada para a exposição primária, a Tabela 2 sugere implicitamente que todas estas estimativas podem ser interpretadas de forma semelhante, se não de forma idêntica, como estimativa do efeito total.194,199
A falácia da Tabela 2 pode ser evitada limitando-se a tabela a estimativas das medidas primárias do efeito de exposição nos diferentes modelos, com as covariáveis secundárias de “ajuste” relatadas em uma nota de rodapé, juntamente com a forma como foram categorizadas ou modeladas.194
20.5.3 Como construir a ‘Tabela 2’?
- A Tabela 2 pode ser utilizada para apresentar estimativas de múltiplos efeitos ajustados de um mesmo modelo estatístico.194
O pacote gtsummary192 fornece a função tbl_summary para construção da ‘Tabela 1’ com dados descritivos.
20.6 Gráficos
20.6.1 O que são gráficos?
- Gráficos são utilizados para apresentar dados (geralmente em grande quantidade) de modo mais intuitivo e fácil de compreender.200
20.6.2 Quais são os tipos de gráficos para variáveis categóricas?
- Gráfico de barras: Mais usado para comparar frequências absolutas ou relativas entre categorias.REF?

Figura 20.1: Gráfico de barras simples representando frequências por categoria.
- Gráfico de barras empilhadas: Útil para comparar proporções entre grupos em mais de uma variável categórica.REF?

Figura 20.2: Gráfico de barras empilhadas representando frequências por categoria.

Figura 20.3: Gráficos de barras represetando médias, barras de erro e dados individuais.
20.6.3 Quais são os tipos de gráficos para variáveis numéricas?
- Histograma: Distribuição de frequência de uma variável contínua. Mostra a forma da distribuição (simétrica, assimétrica, bimodal).REF?

Figura 20.4: Histograma da variável ‘valor’.
- Gráfico de densidade: Similar ao histograma, mas mais suave. Útil para avaliar a distribuição.REF?

Figura 20.5: Gráfico de densidade da variável ‘valor’.
- Diagrama de caixa (boxplot): Resume mediana, quartis e valores extremos. Excelente para comparar grupos.REF?

Figura 20.6: Boxplot por grupo.
- Gráfico de violino: Combina boxplot e densidade, mostrando a distribuição da variável. Útil para comparar grupos.REF?

Figura 20.7: Violin plot por grupo.
- Gráfico de pontos (dot plot): Mostra cada valor individualmente, útil para pequenas amostras e para visualizar a distribuição.REF?

Figura 20.8: Gráfico de pontos da variável ‘valor’.
20.6.4 Quais são os tipos de gráficos para relações entre variáveis?
- Gráfico de dispersão (scatter plot): Mostra a relação entre duas variáveis quantitativas. Ideal para investigar correlações.REF?

Figura 20.9: Gráfico de dispersão representando a relação entre duas variáveis.
- Gráfico de bolhas (bubble chart): Expande o gráfico de dispersão adicionando uma terceira variável (tamanho da bolha).REF?

Figura 20.10: Gráfico de bolhas representando a relação entre três variáveis.
20.6.5 Quais são os tipos de gráficos para séries temporais?
- Gráfico de linhas: Mostra a evolução de uma variável ao longo do tempo, com pontos conectados por linhas.REF?

Figura 20.11: Gráfico de linha representando uma série temporal.
20.6.6 Quais são os tipos de gráficos para dados multivariados?
- Gráfico de dispersão: Representa a relação entre duas variáveis, com pontos e uma linha de tendência.REF?

Figura 20.12: Gráfico de correlação entre duas variáveis com linha de tendência.
- Gráfico de matriz de dispersão: Mostra relações entre múltiplas variáveis quantitativas, útil para identificar padrões.REF?

Figura 20.13: Matriz de dispersão representando relações entre múltiplas variáveis.
- Gráfico de calor (heatmap): Representa dados em uma matriz, com cores indicando intensidade ou frequência.REF?

Figura 20.14: Mapa de calor da correlação entre variáveis.
- Gráfico de radar (ou gráfico de aranha): Representa várias variáveis em um único gráfico, útil para comparar perfis.REF?

Figura 20.15: Gráfico radar representando múltiplas variáveis.
20.6.7 Que elementos incluir em gráficos?
- Título, eixos horizontal e vertical com respectivas unidades, escalas em intervalos representativos das variáveis, legenda com símbolos, síntese descritiva dos valores e respectiva margem de erro, conforme necessário para adequada interpretação.200
Os pacotes ggplot2181, plotly201 e corrplot202 fornecem diversas funções para construção de gráficos tais como ggplot, plot_ly e corrplot respectivamente.
20.6.8 Para que servem as barras de erro em gráficos?
Barras de erro ajudam ao autor a apresentar as informações que descrevem os dados (por exemplo, em uma análise descritiva) ou sobre as inferências ou conclusões tomadas a partir de dados.203,204
Barras de erro mais longas representam mais imprecisão (maiores erros), enquanto barras mais curtas representam mais precisão na estimativa.203
Barras de erro descritivas geralmente apresentam a amplitude (mínimo-máximo) ou desvio-padrão.203
Barras de erro inferenciais geralmente apresentam o erro-padrão ou intervalo de confiança no nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido.203,204
Barras de erro com desvio-padrão são úteis para descrever a variabilidade dos dados, enquanto as barras de erro com erro padrão da média são úteis para descrever a precisão do parâmetro estimado (média) e sua relação com o tamanho da amostra.204
Barras de erro com intervalo de confiança são úteis para fornecer uma estimativa da incerteza da estimativa do parâmetro populacional.204
O comprimento das barras de erro sugere graficamente a imprecisão dos dados do estudo, uma vez que o valor verdadeiro da população pode estar em qualquer nível do intervalo da barra.203
De modo contraintuitivo, um espaço entre as barras não garante significância, nem a sobreposição a descarta—depende do tipo de barra.204
Para amostras pequenas é preferível apresentar os dados brutos, uma vez que as barras de erro não serão muito informativas.204
20.6.9 Quais são as boas práticas na elaboração de gráficos?
O tamanho da amostra total e subgrupos, se houver, deve estar descrito na figura ou na sua legenda.203
Para análise inferencial de figuras, as barras de erro representadas por erro-padrão ou intervalo de confiança no nível de significância \(\alpha\) pré-estabelecido são preferíveis à amplitude ou desvio-padrão.203,204
Evite gráficos de barra e mostre a distribuição dos dados sempre que possível.205
Exiba os pontos de dados em boxplots.205
Use jitter simétrico em gráficos de pontos para permitir a visualização de todos os dados.205
Prefira palhetas de cor adaptadas para daltônicos.205
O pacote ggsci206 fornece palhetas de cores tais como pal_lancet, pal_nejm e pal_npg inspiradas em publicações científicas para uso em gráficos.
O pacote grDevices207 fornece a função dev.new para controlar diversos aspectos do gráfico, tais como tamanho e resolução.